“Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”
Essa foi a pergunta da Virgem Maria aos Pastorinhos na primeira aparição, em de maio de 1917. Eles, com muita prontidão, responderam: “Sim, queremos”. Em seguida, Nossa Senhora os precaveu: “Ides, pois tem muito que sofrer”, e prometeu: “mas, a graça de Deus será o vosso conforto” (In Memórias da Ir. Lúcia p. 173-174)
No decorrer das aparições de Fátima, podemos constatar que a vida dos Pastorinhos foi uma constante e generosa oferta a Deus. Eles compreenderam a profundidade da mensagem da Virgem Maria e vivenciaram de tal maneira os seus apelos, a ponto de Jacinta e Francisco, que faleceram antes de se completarem três anos da primeira aparição, serem elevados à honra dos altares, sendo os mais jovens beatos não mártires da história da Igreja.
Nosso saudoso Papa João Paulo II, na homilia da beatificação dos Pastorinhos, em Fátima, em 13 de maio de 2000, exclamou: “Pedi aos vossos pais e educadores que vos metam na «escola» de Nossa Senhora, para que Ela vos ensine a ser como os Pastorinhos, que procuravam fazer tudo o que lhes pedia. Digo-vos que «se avança mais em pouco tempo de submissão e dependência de Maria, que durante anos inteiros de iniciativas pessoais, apoiados apenas em si mesmos» (S. Luís de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à SS.ma Virgem, nº 155). Foi assim que os Pastorinhos se tornaram santos depressa.”
Hoje, essa pergunta da Virgem Maria quer ecoar em nosso coração: “Quereis oferecer-vos a Deus…?” Assim como ela ensinou a Francisco, Jacinta e Lúcia, quer também nos ensinar a via do oferecimento. A Mensagem de Fátima nos ensina que podemos crescer nesta via de duas formas. A primeira, por meio dos sacrifícios involuntários, aqueles que o próprio Deus nos envia, como afirmou a Virgem Santíssima: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos…”. A segunda são os sacrifícios voluntários, aquelas penitências voluntariamente oferecidas a Deus. Assim, ela enfatizou na aparição de julho: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: ‘Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.‘” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 176)
Um ano antes de Nossa Senhora aparecer, Nosso Senhor enviou Seu anjo para preparar o coração das crianças, a fim de receber a mensagem trazida por Sua Santíssima Mãe; e, assim, Ele começou a introduzi-los na mística da oferta a Deus: “…Que fazeis? Orai! Orai muito! O Coração de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios. Como nos havemos de sacrificar? Perguntei. De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores.
Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar. Essas palavras do anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus, como nos amava e queria ser amado, o valor do sacrifício e como ele Lhe era agradável, como, por atenção a ele, convertia os pecadores.” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 170)
Posteriormente, tendo já Nossa Senhora aparecido, o anjo novamente adverte sobre a necessidade de fazer penitência num tom mais urgente, na aparição de julho de 1917 (terceira parte do segredo): “… vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O anjo, apontando com a mão direita para a Terra, com voz forte disse: ‘Penitência, Penitência, Penitência!’” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 213)
Por penitência compreendemos primeiramente que é o sacramento que nos reconcilia com Deus e com a Igreja.“É chamado sacramento da penitência, porque consagra uma caminhada pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e satisfação por parte do cristão pecador”(CIC 1423).
Compreendemos também que são aqueles sacrifícios involuntários e voluntários oferecidos a Deus que citamos. “A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. A par da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meios de obter o perdão dos pecados, os esforços realizados para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, ‘que cobre uma multidão de pecados’ (1 Pe 4,8)” (CIC 1434).
Francisco, Jacinta e Lúcia foram mestres insignes na prática da penitência, de forma involuntária e voluntária, com a intenção de consolar Jesus, converter os pecadores e reparar o Imaculado Coração de Maria. Irmã Lúcia, nas suas memórias, desvela-nos o ‘véu’ e nos mostra alguns sacrifícios voluntários e involuntários que faziam:
Dos sacrifícios voluntários:
“Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. Havia crianças, filhos de duas famílias da Moita, que andavam pelas portas a pedir. Encontramo-las, um dia, quando íamos com o nosso rebanho. Jacinta, ao vê-los, disse-nos: Damos a nossa merenda àqueles pobrezinhos, pela conversão dos pecadores? E correu a levar-lha. Pela tarde, disse-me que tinha fome. Havia ali algumas azinheiras e carvalhos. A bolota estava ainda bastante verde, no entanto, disse-lhe que podíamos comer dela. Francisco subiu a uma azinheira para encher os bolsos, mas Jacinta se lembrou que podíamos comer da dos carvalhos, para fazer o sacrifício de comer a amarga. E lá saboreamos, aquela tarde, aquele delicioso manjar! Jacinta tomou este por um dos seus sacrifícios habituais. Colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras.
Disse-lhe um dia: Jacinta, não comas isso, que amarga muito. Pois é por amargar que o como, para converter os pecadores. Não foram só estes os nossos jejuns. Combinamos, sempre que encontrássemos os tais pobrezinhos, dar-lhes a nossa merenda; e as pobres crianças, contentes com a nossa esmola, procuravam encontrar-nos e esperavam-nos pelo caminho. Logo que os víamos, Jacinta corria a levar-lhes todo o nosso sustento desse dia, com tanta satisfação, como se não lhe fizesse falta” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 46,47).
“Passados alguns dias, íamos com as nossas ovelhinhas por um caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro. Peguei nela e, brincando, atei-a a um braço. Não tardei a notar que a corda me magoava. Disse, então, para meus primos: Olhem, isso faz doer. Podíamos atá-la à cinta e oferecer a Deus este sacrifício. As pobres crianças aceitaram logo a minha ideia e tratamos, em seguida, de a dividir entre os três. A esquina duma pedra, batendo em cima doutra, foi a nossa faca. Seja pela grossura e aspereza da corda, seja porque, às vezes, a apertássemos demasiado, este instrumento fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. Jacinta deixava, às vezes, cair algumas lágrimas com a força do incômodo que lhe causava; e, dizendo-lhe eu, algumas vezes, para a tirar, respondia: Não! Quero oferecer este sacrifício a Nosso Senhor, em reparação e pela conversão dos pecadores.
Um outro dia, brincávamos, apanhando nas paredes umas ervas com as quais se dão uns estalidos ao apertá-las nas mãos. Jacinta, ao apanhar estas ervas, colheu, sem querer, juntamente, umas urtigas, com as quais se picou. Ao sentir a dor, apertou-as mais nas mãos e disse-nos: Olhem, olhem outra coisa com que nos podemos mortificar! Desde então, ficamos com o costume de, de vez em quando, dar com as urtigas alguns golpes nas pernas, para oferecermos a Deus mais aquele sacrifício” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 92).
Dos sacrifícios involuntários:
A perseguição por parte do administrador:
“Quando, passado algum tempo, estivemos presos, Jacinta, o que mais lhe custava era o abandono dos pais; e dizia com as lágrimas a correrem-lhe pelas faces: Nem os teus pais nem os meus nos vieram ver. Não se importaram mais de nós! Não chores – lhe disse Francisco. – Oferecemos a Jesus, pelos pecadores. E levantando os olhos e mãozinhas ao Céu, fez ele o oferecimento: Ó, meu Jesus, é por Vosso amor e pela conversão dos pecadores. Jacinta acrescentou: É também pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria. Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em pouco nos vinham buscar para nos fritar, Jacinta afastou-se para junto duma janela que dava para a feira do gado. Julguei, a princípio, que se estaria a distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava. Fui buscá-la para junto de mim e perguntei-lhe por que chorava: – Porque – respondeu – vamos morrer sem tornar a ver nem os nossos pais, nem as nossas mães! E com as lágrimas as correr-lhe pelas faces: – Eu queria sequer, ver a minha mãe! – Então, tu não queres oferecer este sacrifício pela conversão dos pecadores? – Quero, quero. E com as lágrimas a banhar-lhe as faces, as mãos e os olhos levantados ao Céu, faz o oferecimento: Ó, meu Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria” (in Memórias da Ir. Lúcia pp 51-52).
A dúvida do pároco em relação às aparições:
“Não me parece uma revelação do Céu. (…) Isto também pode ser um engano do demônio. Vamos ver! O futuro nos dirá o que havemos de pensar” (in Memórias da Ir. Lúcia p. 85).
Os maltratos da Mãe:
“Minha mãe, para obrigar-me a dizer a verdade, como ela dizia, chegou, não poucas vezes, a fazer-me sentir o peso de algum pau, destinado ao lume, que encontrasse no canto da lenha ou do cabo da vassoura. Mas, como ao mesmo tempo era mãe, procurava depois levantar-me as forças decaídas e afligia-se ao ver-me definhar, com uma cara amarela, temendo que fosse adoecer.” (In Memórias da Ir. Lúcia p. 90)
A penitência na Mensagem de Fátima é proposta na forma de sacrifícios oferecidos em ato de reparação e em oferecimento pela conversão dos pecadores. Somos chamados a crescer nesta via do oferecimento, buscando principalmente a retidão do nosso coração e a aceitação das contrariedades que nos sobrevêm. Mas, para isso, devemos estar bem situados no contexto global da Mensagem de Fátima: Oração, Penitência e Conversão.
Nesse contexto, a reparação que nos é pedida pela Virgem Santíssima tem um relevo especial no Santuário do Pai das Misericórdias, em Cachoeira Paulista (SP), sede da Comunidade Canção Nova: “Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 192)
Todos os primeiros sábados do mês, vivenciamos a Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, conforme Nossa Senhora pediu nesta aparição de Pontevedra. Às 10h, iniciamos com a oração do Terço; em seguida, fazemos uma catequese sobre a Mensagem de Fátima; depois, 15 minutos de meditação da Palavra (mistérios do Terço contidos na Sagrada Escritura). Às 12h, temos a Santa Missa votiva à Nossa Senhora. Fica faltando somente a confissão para completar todos os atos reparadores. A confissão deve ser feita no primeiro sábado, mas, na impossibilidade, pode ser feita 8 dias antes ou depois. Em todos esses atos reparadores, devemos sempre formular a intenção de reparar o Imaculado Coração de Maria.
Sendo essa a nossa única intenção, reparar o Coração Imaculado de Maria, vamos consolar seu coração ferido, que recorremos na maioria das vezes para pedir. Que, neste dia, seja a única intenção do nosso coração: reparar o Imaculado Coração de Maria.
Você, que tem participado da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias, pode dar o seu testemunho pelo e-mail: acolhida@paidasmisericordias.com
Para saber sobre os horários de Missas e Confissões, no Santuário do Pai das Misericórdias, pode acessar o site paidasmisericordias.com.
Neste Ano Mariano, especialmente, busquemos crescer no amor para com a Santíssima Mãe de Deus e, em tudo, busquemos agradar a seu coração imaculado, praticando o que ela nos pediu por meio dos Pastorinhos de Fátima. Que Nossa Senhora nos ajude!
Áurea Maria (Canção Nova)
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