Das narrativas de Anna Catharina Emmerich
A MORTE GLORIOSA DA SANTÍSSIMA VIRGEM
As emocionantes e admiráveis narrativas da Paixão e Morte de Jesus Cristo, feitas pela Religiosa Agostiniana Anna Catharina Emmerich, resultantes de suas profundas meditações quaresmais no decurso de 1820 e 1823, sem que constem discrepâncias alguma dos respectivos textos evangélicos, constituem uma demonstração plausível da realidade dessas visões sobrenaturais.
PRÓLOGO
Maria disse uma vez á Soror Maria José de Agreda :
“Se eu tivesse querido afastar de mim a morte, o Altíssimo ter me ia concedido esta graça; pois como o pecado não tinha parte em mim,também a morte,castigo do pecado,não podia ter parte em mim . Como,porém,meu Santíssimo Filho,que muito menos ainda podia merecer a morte,quis voluntariamente, sofrer e morrer ,para dar satisfação á justiça divina pelas culpas do mundo,assim também escolhi para mim a morte,para ficar por minha vontade unida a meu filho na morte como na vida. Como recompensa desta minha escolha,Deus Nosso Senhor me concedeu, em favor dos filhos da igreja, o privilegio para mim tão caro,de dar minha proteção especial na hora da morte,contra os assaltos do inimigo das almas,como também meu auxilio e minha interseção perante o tribunal da divina misericórdia, a todos que me veneram,se me invocarem na hora da morte,para os socorrer,pelos méritos de minha morte voluntária. O Senhor concedeu me para isso poder particular e a promessa expressa de que dará aos meu devotos abundantes auxílios da graça,para uma boa morte e verdadeira reforma da vida, se me invocarem, em memória do mistério da minha morte.”
O ano 48 depois do nascimento de Cristo é o ano da morte de Maria; morreu 13 anos e dois meses depois da ascensão de Jesus. A morte da SS. Virgem foi um acontecimento cheio de tristeza, mas também de consolação. Já na véspera pelo meio dia, reinava grande tristeza e angústia em casa de Maria; a sua criada que a acompanhava estava desolada.
A Santíssima Virgem descansava silenciosa e como próximo da morte, sobre o leito. Estava toda envolta, até os próprios braços, num lençol branco. O véu do rosto estava dobrado sobre a testa; falando aos discípulos e Apóstolos de Jesus presentes os puxava sobre o rosto.
As próprias mãos só ficavam descobertas quando sozinha. Nos últimos dias não a vi tomar outro alimento, senão, de vez em quando, uma colherzinha de suco de uns frutinhos amarelos, semelhantes á uva, que a criada espremia num pratinho aos pés do leito.
Quando a Santíssima Virgem, ao cair da tarde, sentiu aproximar se lhe o fim, quis despedir se dos Apóstolos, discípulos e mulheres presentes e dar lhes a bênção conforme a vontade de Jesus. As cortinas do leito foram abertas para todos os lados. Maria estava sentada no leito, como que transparente, de uma alvura resplandecente. Rezou e abençoou um por um , com as mãos postas em forma de cruz, tocando a testa de cada um. Depois falou ainda com todos e fez tudo quanto Jesus lhe recomendara em Betânia.
A João disse como devia sepultar lhe o corpo e distribuir lhe a roupa entre a criada e outra moça pobre da vizinhança, que ás vezes lhe viera prestar serviços.
Depois dos Apóstolos, se acercarem do leito da Santíssima Virgem os discípulos presentes e receberem lhe também a benção do mesmo modo. Os homens retiraram se então para o quarto anterior da casa e preparara-se para o ofício divino, enquanto as mulheres presentes se aproximavam do leito da Santíssima Virgem, se ajoelhavam e recebiam a bênção. Vi que uma delas inclinando se sobre Maria recebeu dela um abraço. Nesse ínterim foi preparado o altar e os Apóstolos vestiram-se para o ofício divino, com longas vestes brancas, cingindo se com as cintas ornadas de letras. Cinco deles,que funcionavam no ato solene do sacrifício,como o vó celebrar por Pedro, após a ascensão de Jesus,primeiro na Igreja nova ,perto do tanque de Betesda,revestiram se das grandes e belas vestes sacerdotais.
O Ofício divino já estava adiantado, quando chegaram Felipe e um companheiro do Egito. Dirigiu se imediatamente á Mãe do Senhor recebeu-lhe a bênção, chorando copiosamente.
No entanto Pedro acabara o santo sacrifício; tinha consagrado e recebido o Corpo do Senhor, dando-o também ais Apóstolos e discípulos presentes. A Santíssima Virgem não podia avistar o altar; mas estava sentada no leito, durante a santa cerimônia, sempre em profundo recolhimento. Depois de Pedro ter comungado deu a Santa Comunhão também aos outros Apóstolos e levou-a então á SS. Virgem.
Todos os Apóstolos o acompanharam, em procissão solene. Tadeu ia á frente, com um incensório. Pedro levava o santíssimo Sacramento no vaso cruciforme, sobre o peito. Seguia-se lhe João, que trazia um pequeno prato, sobre o qual estava o cálice, com o preciosismo Sangue e alguns vasos. A Santíssima Virgem estava deitada de costas tranqüila e pálida, com o olhar fixo para cima; não falava com ninguém e estava como em contínuo êxtase;resplandecia de saudades de Jesus.
Pedro aproximou se e administrou-lhe o santo sacramento da Extrema Unção, quase do mesmo modo como se faz hoje. Depois lhe deu o santíssimo Sacramento. Sem se recostar, a Virgem sentou se para recebê-lo e depois caiu de novo em seu leito. Os apóstolos rezaram durante algum tempo e depois ela recebeu o cálice da mão de João, levantando-se um pouco menos. Vi como um fulgor penetrar em Maria, quando recebeu a Sagrada Comunhão e depois caiu em Êxtase sobre o leito e não mais falou.
Mais tarde se reuniram os Apóstolos novamente em roda do leito rezando. O rosto de Maria estava risonho e fresco como na juventude. Dirigia os olhos com santa alegria no céu. Vi então uma visão maravilhosa e comovedora. O teto por cima do quarto de Maria desaparecera; o candeeiro estava suspenso no ar; vi, pelo céu aberto, a Jerusalém celeste. Desciam dois planos brilhantes,como nuvens luminosas,nas quais apareciam rostos de Anjos.Entre nuvens se derramava uma torrente de luz sobre Maria, acima da qual vi uma encosta resplandecente,que subia até a Jerusalém celeste. A virgem estendia os braços com infinita saudade do seu filho e vi lhe o corpo sagrado, com tudo o que envolvia erguer se lhe acima do leito, enquanto sua alma ,como uma puríssima forma luminosa,lhe saía do corpo,com os braços estendidos, erguendo-se na torrente de luz ,qual montanha resplandecente,se elevava céus acima.Os dois coros de anjos,nas nuvens,se lhe uniram atrás da alma,separando a do santo corpo,que no momento da separação recaiu sobre o leito,cruzando os braços sobre o peito.Seguindo a alma com o olhar,vi –a entrar ,pela estrada de luz,na Jerusalém celeste e chegar ao trono da Santíssima Trindade.Vi muitas almas, entre as quais reconheci muitos patriarcas:Joaquim,Ana,José,Isabel,Zacarias,João Batista lhe vieram ao encontro,com respeito e alegria.Ela passou,porém no meio de todos,dirigindo-se ao trono de Deus e de seu Filho que excedendo ainda com o esplendor das chagas a luz de toda aparição, a recebeu com amor divino e lhe entregou algo como cetro,mostrando lhe o globo terrestre,como para lhe confiar um poder.
Assim a vi entrar na glória do céu, esquecendo-me totalmente dos que lhe rodeavam na terra. Alguns dos Apóstolos, por exemplo, Pedro e João, devem tê-lo visto também pois tinham o olhar dirigido para o céu.Os demais estavam de joelhos inclinados profundamente. Tudo estava cheio de luz e esplendor, como na ascensão do Senhor.
Vi com grande alegria, numerosas almas remidas do purgatório seguirem a alma de Maria,quando entrou no céu e também hoje,na festa da Assunção,vi entrar muitas almas no céu,entre as quais algumas que conheci.Foi me dada a consoladora informação de qua anualmente,no aniversário da morte da Santíssima Virgem,muitas almas que lhe tiveram a devoção,participariam dessa graça.
Quando tornei a olhar para a terra, vi o corpo de Maria resplandecente, com o rosto fresco, os olhos fechados, os braços cruzados sobre o peito deitado sobre o leito. Os Apóstolos, os discípulos e as mulheres estavam de joelhos em roda do leito e rezavam. Enquanto eu via tudo isso, era como se soasse uma música deliciosa na natureza, que parecia comovida, como o tinha percebido anteriormente na noite de Natal. Expirara como observei depois da (hora) nona, á hora em que também morreu o Senhor.
As mulheres estenderam uma coberta sobre o corpo sagrado; depois cobriram a cabeça e velaram o rosto, sentando se juntas no chão, no quarto do vestíbulo, onde fizeram lamentação fúnebre, ajoelhando se e sentando alternadamente. Os Apóstolos, porém e os discípulos retiraram se para a parte anterior da casa, cobriram a cabeça e celebraram o ofício fúnebre. Revezavam dois a dois, de joelhos, aos pés e á cabeceira do santo corpo.
O santo corpo da SS. Virgem foi embalsamado segundo os costumes judaicos e sepultado numa gruta sepulcral.
A ASSUNÇÃO
Após o sepultamento vi ainda vários Apóstolos e algumas santas mulheres rezar e cantar no pequeno jardim, diante do sepulcro. Descia, porém, uma larga faixa de luz do céu até o rochedo do sepulcro e nela vi um esplendor de três círculos de Anjos e almas ,que rodeavam a aparição de Nosso Senhor e da ALMA gloriosa de Maria. A aparição de Jesus Cristo, com os sinais resplandecentes das chagas, pairava diante dela. Em redor da ALMA de Maria vi, no círculo interior da luz, figuras de crianças, no segundo circulo pareciam meninos de seis anos e no círculo exterior jovens adultos. Vi-lhes distintamente os rostos; o resto vi apenas como formas luminosas. Quando esta aparição chegou até o rochedo, tornando-se cada vez mais clara, vi dali até Jerusalém celeste uma estrada de luz. Depois vi a ALMA da SS, Virgem, que seguia a aparição de Jesus, passar para frente e entrar através da rocha no sepulcro, do qual pouco depois saiu unida ao corpo glorificado de Maria, muito mais clara e resplandecente e voltou com o Senhor e todo o glorioso séquito, para a Jerusalém celeste. Depois desapareceu todo o esplendor e se via de novo a luz pálida do céu estrelado, que se estendia sobre a região.
Se os Apóstolos e as santas mulheres, que rezavam diante do sepulcro, também o viram, não o sei; mas vi que todos olhavam para cima orando cheios de admiração; outros, porém, atônitos se prostraram,tocando o rosto a terra.
Assim não vi a SS. Virgem morrer e subir ao céu de modo comum; mas primeiramente se lhe tirou da terra a ALMA e depois também o CORPO.
Resumo extraído do livro: VIDA,PAIXÃO E GLORIFICAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS – Anna Catharina Emmerich ( Editora MIR EDITORA – São Paulo 6ª edição Tel : (11) 3865 4340)
Paginas: 409 411 a 416